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True Colours #27

O rubor aromatizado da cor do rubi, brilhante, fresco e doce, impregnava-lhe as faces. Corou com a desfaçatez de uma menina envergonhada mas plenamente ciente do que se preparava para fazer. O rosto denunciava a experiência de uma vida, algumas rugas vincavam-lhe já o sorriso e a tez já fora mais resplandecente. Contudo, a expressão era permeada pela travessura, pela maldade inocente de quem tem prazer em brincar, de quem manipula, de quem manieta, de quem subjuga à sua vontade. Regozijava porque sabia que tinha o poder nas suas mãos, na sua língua. O poder de controlar a libido, de dar prazer tão depressa como o retirar. Sabia-se mestra mas gostava de se mostrar aprendiz, tecendo em seu redor uma teia apertada de conquistas, de submissões, de domínio. Era assim, lambendo e chupando que se achava no auge das suas capacidades, que se mantinha no controlo. Pegava no fruto mole, raquítico e inútil e devolvia-lhe a vida em suaves deslizares da língua sabiamente ensinada a tocar nos locais certos, a lamber a textura rugosa para a transformar num vigoroso objecto de prazer. Brincava, torneava, engolia os sucos que escorriam em ténues fios de frescura, em agridoces sucedâneos saciantes da sede que sempre tinha e lhe secavam a garganta na expectativa. Manobrava descompassadamente, impunha ritmos alternados e, de vez em quando, sucumbia à gula e trincava ao de leve como que querendo provar sem magoar a fruta, sem desfazer o encanto, sem deixar fugir a inocência que se enleava na água que lhe crescia na boca. Retirava prazer de engolir sem deglutir, de prolongar sem estragar, de gemer sem ceder, de almejar aos degustares que se seguiriam. Essa sim, era a cereja no topo do bolo.

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